Monday, November 10, 2008

A apatia que (me) incomoda



Em 1453, durante a tomada de Constantinopla, na Turquia, as autoridades cristãs estavam reunidas num concílio. Entre os diversos assuntos das acaloradas discussões, os clérigos debatiam sobre o facto de os anjos terem ou não sexo.
O imperador foi morto durante a defesa da capital, juntamente com milhares de cristãos.

O Império Bizantino desmoronou-se e o concílio não chegou a conclusão nenhuma sobre o sexo dos anjos.

Há palavras que nos despertam da nossa preguiça mental e nos fazem pensar.

Há palavras que deviam mercer mais destaque nas primeiras páginas dos nossos jornais.

Há palavras que não deviam ficar esquecidas entre os milhões de imagens com que nos bombardeiam todos os dias.
É o caso das palavras ditas pelo Arcebispo de Braga, há uns dias atrás, numa entrevista à agência Ecclesia, e que não tiveram grande divulgação, vá-se lá saber porquê.

Talvez a explicação esteja mesmo nas suas palavras. Então que disse ele?

Dissse apenas isto: “o grande problema da sociedade portuguesa está na alergia em participar.
As pessoas habituaram-se e estão de olhos fechados. Em certas conversas e ocasiões abordam os problemas concretos, mas depois continuam com os mesmos hábitos e rotinas.

Não são capazes de participar activamente na sociedade para que o país seja diferente.
Fala-se do desemprego, do encerram
ento de empresas, dos assaltos que proliferam todos os dias, todavia ficam passivas.
A apatia sobre a realidade incomoda-me”.

Não nos cabe a tarefa de ser pessimistas nem alarmistas, mas tomar consciência dessa realidade e alertar as consciências de quem nos ouve.

Devemos fazer alguma coisa por nós. Temos de fazer alguma coisa pelos outros — esses dois milhões de herdeiros de Camões — que estão em grandes dificuldades de sobrevivência e lutam, cada dia, em vão, pela dignidade humana a que eles e os seus filhos têm direito.
Nesta hora e neste momento é urgente que os alguns partidos se concentrassem a encontrar soluções que merecemos e não a fazer um frete ao Governo distraindo-nos dos reais problemas com discussões de ‘lana caprina’ ou o sexo dos anjos.

Como Charles de Gaule, eu sei e tu sabes que “a igreja é o único lugar onde alguém fala comigo (e contigo) e não tenho (não tens) de responder.”
Vá lá, responde.
Levanta-te e faz alguma coisa.

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