Palavras sobre bracarenses que fazem, porque há gente fantástica, não há? Há, a começar por ti.
Saturday, January 3, 2009
Franceses em Braga há 200 anos (1)
A segunda invasão francesa começou em Fevereiro de 1809 e constitui — após a entrada de leão por terras de Vieira e da Póvoa de Lanhoso em direcção ao Porto, com batalha em Braga — uma das maiores derrotas militares do Marechal Soult.
Os franceses entraram em Portugal por Trás-os-Montes (após a heróica resistência em Caminha), conquistando as terras do Minho até ao rio Douro. As forças de Napoleão Bonaparte não aguentaram a resistência anglo-portuguesa e retiraram por onde vieram, em Maio do mesmo ano. À terceira tentativa evitaram o Minho.
O historiador Oliveira Marques afirma que estes "quatro ano de guerra haviam deixado o país em situação miserável. As invasões e a ocupação francesa devastaram uma boa parte de Portugal, sobretudo a Norte do Tejo. A Agricultura, o comércio e a indústria foram profundamente afectados, já sem falar das perdas de vidas, das crueldades habituais e destruições sem conto".
São boas razões para iniciarmos, uma série de artigos sobre a segunda invasão francesa que testemunhou a heroicidade e capacidade de resistências dos povos da Póvoa de Lanhoso e vizinhos, como Vieira do Minho e Braga.
"Tanto franceses como ingleses saquearam um bom número de mosteiros, igrejas, palácios e casas humildes, levando consigo toda a casta de objectos preciosos, incluindo quadros, esculturas, móveis, jóias, livros e manuscritos" — assegura o insigne historiador Oliveira Marques na obra "História de Portugal".
Estamos na antecâmara da revolução da Maria da Fonte que há-de fustigar o Minho, a partir de Font'Arcada três décadas depois. São razões bastantes para a escolha deste tempo e deste tema, devido ainda às profundas alterações sociais que se registam com o surto de emigração para o Brasil.
A AMBIÇÃO GAULESA
A segunda invasão francesa insere-se na chamada Guerra peninsular, no começo do século XIX, na sequência da queda dos velhos sistemas monárquicos absolutistas e dos desmandos da Revolução Francesa de 1789. A Inglaterra e a França (mais a Rússia, Prússia e Àustria) agigantaram-se na luta pela conquista de uma liderança política e económica.
A Espanha fez inicialmente o jogo francês até ao momento em que viu estar a sua independência em perigo. Portugal era um pequeno país de costas voltadas à Europa mas um secular e fiel aliado inglês que Napoleão queria controlar de forma a controlar uma grande parte dos portos portugueses e aniquilar o poderio naval bélico e comercial dos ingleses.
Napoleão não desistiu enquanto não conseguiu controlar este "porto de abrigo dos ingleses" que era Portugal e, ao mesmo tempo, cortar a tutela inglesa sobre a Lusitânia.
A invasão do território português em 1801, insere-se no primeiro período em que os Espanhóis se aliaram aos francesas. São aqueles quem protagoniza essa invasão que termina com a comédia de Baiona, quando os reis espanhóis são presos e os franceses conquistam o domínio de Espanha.
Em Portugal eram bem recebidas as ideias da Revolução Francesa, o que explica a inacção lusíada perante este insulto espanhol às nossas fronteiras à mercê da libertação por parte dos ingleses. A Inglaterra assumira-se como inimiga de França quando o rei Luís XVI é condenado à guilhotina, em Paris, em 1793. Neste mesmo ano, Portugal e Espanha assinavam um acordo de protecção mútua contra França.
Idêntico acordo era celebrado entre Portugal e Inglaterra no mesmo ano. Em França, instaura-se o Directório da República, dois anos depois, que vigora até 1799, altura em que Napoleão Bonaparte assume todo o poder e se auto-proclama Imperador em 1804.
A França ameaçava todos os interesses marítimos dos ingleses e Portugal é colocado perante um dilema: ou aceita a paz com a França, em troca do abandono da aliança com Inglaterra (que escarnecia do seu aliado no Brasil e no Oriente) ou mantinha-se fiel a uma Inglaterra pouco leal e sujeitava-se a invasões francesas por interposta Espanha dominada por Godoy.
Perante este abandono a que Portugal era votado pelos aliados ingleses, restava ao nosso país as negociações para a paz, com os franceses, uma vez que a tese da neutralidade não era aceite pelo Directório gaulês como fora comunicado ao Conde da Barca.
António de Araújo e Azevedo comunica ao Governo português as exigências francesas para um acordo de paz que incluíam "o abandono da aliança inglesa, com a consequente exclusão de navios britânicos dos portos portugueses, a livre admissão dos franceses, a indemnização de guerra e liberdade de navegação no Amazonas".
Estas propostas traduziam-se num corte de relações com Inglaterra. Portugal, numa primeira fase, mostrou-se disponível para romper com a aliança britânica mas esta potência opôs-se e o nosso António Araújo é detido em Paris, violando todos os direitos dos diplomatas.
Entalado entre os interesses ingleses e a vontade dos franceses em romper com Portugal que também ficava mal visto diante dos ingleses por negociar com Paris o fim do "casamento" com Londres.
A Portugal não restava outra saída se não a guerra com França e a 20 de Maio de 1801, o Alentejo era invadido sem que os portugueses se tivessem preparado para resistir à invasão em qualquer um dos quatro pontos de entrada.
Começava assim uma década de permanentes conflitos militares que destroçaram o país, como veremos nas próximas crónicas.
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