Monday, September 29, 2008

S. Geraldo — 900 anos da sua morte (2)


Para percebermos a importância de S. Geraldo para Braga, o norte de Portugal e o nascimento de Portugal enquanto país, temos de recuar no tempo.
Devidamente enquadrada a sua figura, o seu valor ainda se destaca mais aos olhos dos que vivem neste século XXI em que se celebram os 900 anos da sua morte.

O cristianismo, quando entrou na Península Ibérica — de que Braga era um dos maiores pólos urbanos e centro de difusão cultural — encontra um lastro religioso de muitos séculos cuja matriz era a multiplicidade de deuses e de cultos.

Os berços religiosos da Galécia situam-se antes dos romanos cá chegarem, mas estes pensaram que por cá não se prestava culto aos deuses, dada a inexistência de templos e de imagens, como escreveu Estrabão na sua “Geographia”.
Os habitantes da Galécia veneravam os seus deuses juntoa a rios e fontes, sem templos, de que é exemplo máximo a Fonte do Ídolo em Braga.

É a romanização que leva os habitantes da Galécia à construção de templos e com eles à alteração da prática da religião, embora os deuses indígenas tenham começado a desaparecer com a chegada de Fenícios, gregos e cartagineses.

Com a romanização acontece também que a um deus romano era dado um nome indígena, o que traduz a resistência dos autóctones da Galécia às divindades trazidas pelos romanos. Por exemplo, em Vilar de Perdizes, o culto ao deus Larouco fundiu-se com o de Júpiter, o que também pode querer significar que Roma não quis impôr aos habitantes da Galécia os seus deuses.

Sabe-se que o culto de Júpiter foi o mais difundido entre nós, sobretudo nas cidades, mas subsistiam devoções a Serápis ou à egípcia Ísis, enquanto não chegavam as ondas do culto ao Imperador.

O cristianismo terá chegado á península Ibérica no séc. II- S. Irineu de Lião, na sua “Adversus Haereses”, escrita em 188, fala das igrejas da Ibéria ao destacar o seu fervor no combate às heresias.

Tertuliano, duas décadas depois, alude ao cristianismo espalhado por todo o mundo incluindo os “hispaniarum omnes termini”, sobretudo trazido pelos comerciantes, navegadores e soldados. Outra prova consiste na perseguição de Diocleciano, no ano 303, que faz muitos mártires nas cidades lusitanas, sobretudo nas cidades.

A escassez documental torna quase impossível descrever a chegada do cristianismo à Península Ibérica, apesar das lendas referentes a S. Tiago, apesar dos esforço para relacionar o cristianismo ibérico com os tempos dos Apóstolos (Rom. 15, 24).

O documento mais antigo refere-se à Galécia mas sabe-se que o cristianismo chegou mais depressa e mais cedo ao sul da Península Ibérica. O Concílio de Elvira testemunha isso mesmo em meados do século III, separando judeus de cristãos e cristãos de pagãos. Quando Teodósio oficializa o cristianismo, em 394, começa a adaptação dos templos romanos à nova religião e dava-se às antigas práticas religiosas um novo sentido.

Uma vez que a Norte a romanização não fora tão forte, nos século V dá-se a entrada dos povos suevos e visigóticos, uns mais a norte e outros na Lusitânia.

É por esta altura que surge em Braga Paulo Orósio com a sua “Historiarum adversus paganos”, a primeira tentativa de elaborar uma filosofia cristã da História. Expurgar os cultos pagãos eram um dos objectivos desta obra, mas eles iam subsistindo sobretudo entre as gentes do campo que continuavam a rezar-lhes nos montes, nos bosques, nos rios e nas fontes. As fontes miraculosas são cristianizadas com a concessão do nome de um santo.

O “paganus” era o habitante do campo que se mantinha fiel ao politeísmo em contraponto ao habitante urbano monoteísta.

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