É perder tempo com os leitores falar da imponência e da beleza arquitectónica do Campo das Hortas, do Arco da Porta Nova e do Palácio dos Biscainhos, com os seus exóticos jardins.
Recentemente, aquela área foi enriquecida com a recuperação de uma das torres medievais, para aí instalar o Museu da Imagem.
Com a demolição de um edifício onde funcionou o restaurante Tulha, na rua dos Biscainhos, ficou visível — podendo ser apreciada por quem nos visita — uma das paredes da Torre.
No entanto, corre o risco de ser tapada, outra vez, o que constitui uma perda para os bracarenses, para o nosso património e para o turismo. Ainda estamos a tempo de evitar que isso aconteça, se existir boa vontade da autarquia e dos proprietários do edifício.
Nas nossas pesquisas — sobre outro tema — deparámos estes dias com umas declarações interessantes de Mesquita Machado no Forum Gallaecia das Cidades Augustas do Noroeste.
Nesse forum, em Lugo, ele defendia o reforço de iniciativas que “possam redobrar a consciência dos cidadãos para a importância do património histórico das cidades” (cf. Correio do Minho, 5 de Dezembro de 1998, p. 4). Este alerta enquadra-se nesse apelo.
A tarefa de conservação do património histórico — como acrescentou nessa altura — “só pode ter sucesso com a contribuição dos próprios cidadãos, tendo em conta a interiorização de que honrar e dignificar o nosso passado é também uma forma de conseguirmos melhor futuro”.
Atendendo à zona envolvente que inclui o campo das Hortas, o Palácio dos Biscaínhos com os seus Jardins, o espectacular Arco da Porta Nova, o renovado pólo cultural que é o Museu da Iamgem.
Acresce que estamos perante uma das portas mais dignas do centro histórico de Braga. Não podia a Câmara Municipal de Braga fazer mais um esforço — consentâneo com o que dizem pensar os seus mais altos responsáveis — para enriquecer os bracarenses e quem os visita? Toda a gente sabe que pode e dificilmente se percebe uma resposta negativa.
Basta — em nome do interesse público, sem danificar os direitos de ninguém — anular a reconstrução do edifício onde funcionou durante décadas aquele restaurante, permitindo que mais um pedaço da muralha antiga da cidade ficasse disponível para admiraçãode quem nos visita.
Mais tarde ou mais cedo, com melhor disponibilidade financeira que a actual, a autarquia podia também adquirir o prédio do gaveto da Praça Conde S. Joaquim com a rua dos Biscaínhos, de modo a deixar a Torre do Museu da Imagem totalmente despida de elementos e edifícios que foram acrescentados à sua sombra ao longo dos séculos. Seria uma espécie de segunda Torre de Menagem que Braga tinha para mostrar.
Quando se fazem campanhas para — através da gastronomia — chamar turistas a Braga para apreciarem o nosso património, está aqui mais uma oportunidade para o enriquecer. Não basta tê-lo (encoberto por outros prédios, como acontece com grande parte do pano da muralha), é preciso, cada vez mais, mostrá-lo, até porque ninguém aprecia o que não vê nem ninguém ama o que não conhece.
Nas vésperas da festa do Padroeiro da cidade, S. Geraldo, uma decisão que preservasse e mostrasse mais aquele pedaço da dua história e do seu passado era um bom presente para a cidade de Braga.
Imaginem, por momentos, o esplendor que era dado a esta parte da cidade, a quem entra nela a partir da Estação da CP: dar de caras com um belo jardim, um arco imponente e uma torre fantástica, ao lado de um palácio de sonho, formando um conujunto de rara beleza que mistura as arquitecturas militar, civil e religiosa.
Querer é poder. Há quem tenha poder. E quem tem poder tem dado provas de defesa, preservação e revitalização do património constuído bracarense.
Braga merece e sabe ser grata a quem gosta dela. Vamos lá, passem das palavras — como aquelas de Lugo — às acções, mandando a reconstrução do antigo Tulha para o entulho.
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