Palavras sobre bracarenses que fazem, porque há gente fantástica, não há? Há, a começar por ti.
Saturday, May 12, 2007
Silva Araujo: a poesia como refugio
O poeta diz que são versos que “fui escrevendo ao longo da vida. Uns com mais jeito, outros com menos” mas eu não posso concordar com a segunda parte da frase, porque este livro é a prova de que ele possa assinar poemas “com menos” jeito.
Acresce que a poesia de sabor religioso, em que o vimaranense Silva Araújo é um mestre, é um género muito raro na Língua Portuguesa, se exceptuarmos dois grandes cultores, Antero de Quental e Moreira das Neves.
São desabafos para o papel “como quem reza, como quem manifesta o seu desencantou a sua revolta” que ecoaram em “Poemas da hora que passa”, no ano de 1961, que se consolidarem no “Cântico dos meus limites”, passados dois anos, e se alicerçaram em “Raízes”, há doze anos.
Como todos os que escrevem, não custa darmo-nos conta de que há textos — em verso e prosa — que Domingos da Silva Araújo escreveu e “hoje não o teria feito”, apenas pela “linguagem” utilizada que em “Refúgio” não tem abrigo.
O primeiro volume destes poemas é dedicado a Nossa Senhora, uma presença forte na escrita poética de Domingos da Silva Araújo, como eco divino do humano amor maternal, a quem o autor de abre do “avesso e mostra que aos outros não pareço”.
Este volume de poemas marianos recolhe trabalhos feitos desde há 55 anos, quando o poeta andava pelos Seminários, com os seus 16 anos, como se percebe pelas referências a um estilo de “vida que pertence ao domínio da saudade”— como escreve o autor no prefácio.
A simplicidade constitui a pedra de toque de todos os poemas que o leitor pode encontrar em “Refúgio”, o que, para quem o conhece e com ele trabalhou e viveu, não constitui surpresa mas alegre fidelidade a uma forma de estar na vida, desgraçadamente em extinção.
Não fosse o autor um jornalista, ao longo de décadas, e percebe-se que a simplicidade das palavras é a forma mais eficaz de comunicação, que quer dizer partilha de ideias, de conceitos, de sentimentos, de valores, de ideiais e de afectos.
A simplicidade das palavras é meio caminho andado para que o leitor absorva, sem sobrecarga de trabalho, o essencial, ou seja, evitar “buscar a luz por caminhos humanos”.
Ao ler os poemas de “Refúgio”, as pessoas não se deparam com “enganos” nem mergulham nos “mares fundos de desilusão” onde se descobrem “abrolhos e fantasmas horrendos e cegueira”.
O leitor de “Refúgio” encontra a paz no regaço mariano, mesmo que seja uma Senhora das Dores “noiva da minha tristeza”, “quando a noite chega mansamente”, que se transforma em “Senhora da Solidariedade” para lhe rezarmos pelos “sem-trabalho, o amor traído/Os que na vida vegetam, sem ter norte./Ajuda-os a ver que a vida tem sentido”.
“Refúgio” acolhe poemas e orações à Senhora da Misericórdia, do Sim, do Socorro, da Luz, da Soledade, do Sameiro, das Sete Espadas, que “lá se vai,terras fora/Em celeste sementeira/Feita do mundo romeira,/A Virgem Nossa Senhora”.
As 115 páginas deste livro encerram com um índice das obras de Domingos da Silva Araújo, grande parte delas dedicadas a temática do jornalismo, factos e figuras da vida da diocese de Braga e a beata Alexandrina de Balazar.
Os leitores e admiradores esperam agora que lhes cheguem às mãos “Álbuns”, “Da Guerra eda Paz”, “Em hora de solidão” e “Fazer da vida uma festa”.
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