Palavras sobre bracarenses que fazem, porque há gente fantástica, não há? Há, a começar por ti.
Saturday, May 12, 2007
Coro Gregoriano de Braga grava um novo CD mariano
O mosteiro de Arnoso, em Famalicão, está a ser o ‘estúdio’ de gravação do segundo CD do Coro Gregoriano de Braga, fundado em finais de Janeiro de 2000 e que está hoje em festa. O CD deve estar disponível no Verão – revelou ao Correio do Minho, o maestro Hélder Fernando Geraldo Apóstolo.
Este jovem coimbrão, chegado a Braga em 1998, é o responsável por este enriquecimento musical da Roma Portuguesa, a partir da Catedral de Santa Maria, após várias tentativas e reptos lançados pelo Cabido da Sé que ficaram sem resposta.
“Se queres avançar, terás todo o nosso apoio” – garantiu-lhe, então, o Deão do Cabido, Eduardo Melo Peixoto. Com este estímulo, Hélder Fernando Antunes Geraldo Apóstolo reuniu boas vontades de um grupo de pessoas constituído por ex-seminaristas e ex-padres dispersos por vários coros e a resposta foi: “vamos a isso”.
MAIS
UMA BANDA
DE GARAGEM?
Os primeiros tempos não foram fáceis porque a cultura musical “andava pelas ruas da amargura” em Braga, ao ponto de gente muito responsável – a quem foi solicitado apoio – ter respondido: “nós não podemos apoiar qualquer banda de garagem que nos aparece...”
“Foi como quem me matou” – lembra Hélder Apóstolo, quando recorda este episódio.
Apesar deste desaire – só explicável por ignorância inqualificável – as boas vontades não desistiram e no dia 27 de Janeiro de 2000 nascia o Coro Gregoriano de Braga, associando-se desta forma ao Jubileu e Ano Santo.
Era a resposta à lacuna existente em Braga com a preocupação de trazer à Bracara Augusta, considerada no século XX a rainha da música em Portugal, uma prática musical que esteve durante anos enraizada na tradição religiosa e litúrgica bracarense.
“Fizemos alguns contactos para conseguir livros de canto gregoriano e fomos arranjando alguns “Liber usualis”, nas mãos de antigos seminaristas. Fomos bater à porta do Seminário do Espírito Santo e também nos arranjaram uma quantidade razoável. Demos início aos ensaios e apresentamo-nos pela primeira vez em público no primeiro Domingo da Quaresma desse ano”.
A princípio, o Coro Gregoriano não foi bem recebido: “pensavam que éramos revivalistas, ‘lefebvrianos’, conservadores que queriam ressuscitar os mortos e vaticinaram que não chegaríamos a lado nenhum. Alguns não nos davam mais de seis meses mas hoje mantém-se com regularidade de concertos e animação das celebrações litúrgicas na Sé e fora dela”.
Dois anos depois, o Coro Gregoriano era reconhecido pelo Arcebispo primaz como Associação Pública de Fiéis, aprovando os estatutos e conferindo-lhe personalidade jurídica, faz hoje cinco anos.
No seu percurso, o Coro conta já com uma vasto repertório musical, quer Gregoriano quer polifónico que incide particularmente na música renascentista portuguesa e estrangeira sem esquecer os autores portugueses contemporâneos, das escolas de Braga, Coimbra e Évora.
Em Parceria com o Coro da Sé Primacial de Braga procura trazer ao conhecimento público o acervo musical da mesma Sé, algum dele inédito, potenciando o conhecimento e a prática do gregoriano e da polifonia associados ao Rito Bracarense.
Conta com um grande número de actuações em Braga e um pouco por todo o Minho e outros locais do país e de Espanha, quer em concerto quer em celebrações litúrgicas que tem solenizado.
No ano 2003 editou o seu primeiro CD, “Passio Domini”, com melodias do Ofício de Quinta, Sexta-feira e Sábado santo, quer em Gregoriano, quer em Polifonia.
CORO DA SÉ:
UM IRMÃO
GÉMEO
No seguimento das primeiras actividades do Coro Gregoriano, o Deão do Cabido, Eduardo Melo Peixoto, sensibilizou Hélder Apóstolo para a criação de um coro para as celebrações principais da Sé de Braga. “Isso exigia outro fôlego” – argumentou então o maestro e fundador do Coro Gregoriano.
O Deão contra-argumentou com as realidades das Sés de Lisboa e Porto com os “coros que teme nós não temos nada”. “Existe o coro da Sé” – respondeu Hélder Apóstolo mas o Cónego Eduardo Melo contra-argumentou: “é um coro da paróquia e não da Catedral”.
Em 10 de Junho de 2000, recorda Hélder Apóstolo, “juntamos pela primeira vez os ‘gregorianos’ com um grupo de senhoras que o Cónego Melo convidou para delinearmos o início do Coro da Catedral”. A estreia aconteceu no dia 8 de Dezembro desse ano. É um coro misto composto por 45 elementos, das mais variadas idades e formações.
A ele se deve a revitalização da boa tradição musical na Sé de Braga, de modo a que a Igreja mãe seja referência para toda a diocese.
O seu reportório incide na música sacra e clássica, polifonia renascentista portuguesa bem como na divulgação de alguns dos mestres da Sé bracarense, Coimbra e Évora: Duarte Lobo, D. Pedro de Cristo, Diogo Dias Melgaz e Pêro da Gambôa.
O Coro Gregoriano foi fazendo o seu caminho próprio e angariando algumas receitas para custearmos a gravação do CD e levado a sua música a muitas celebrações e concertos, a convite de instituições como Câmara Municipal do Porto, Universidade do Minho, indo a cidades como Porto, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim, Esposende, Coimbra e também até Espanha.
Quando se unem, os dois Coros têm 55 vozes, sendo 16 oriundas do Coro Gregoriano.
O Coro da Sé está ao serviço da Liturgia da Catedral: “era uma pena não ter um coro digno da Catedral. Antes, as grandes celebrações estavam associadas ao ‘Schola Cantorum’ do Seminário. Agora, há uma série de celebrações que não estão, como Páscoa, Pentecostes, Imaculada Conceição, Dedicação da catedral, Natal, Ano Novo, Todos os Santos, etc.”
“Pretendo que o Coro da Sé apresente e divulgue boa música litúrgica e fomente a participação da Assembleia” com um repertório variado que inclui Palestrina, Tomás Luís Vitória, Gabrielli, Mozart, Bach, Haendel, os nossos músicos Manuel Faria, Joaquim Santos, Manuel Alaio, etc.
Além disso, participa em encontros de coros locais e distritais, bem como fora do país. “Estamos a preparar uma ida a Salamanca, e tivemos um convite que muito nos honrou no aniversário da Banda da Força Áerea Portugeusa” – acrescenta o maestro.
Para este Coro há um “projecto, em fase de ideia, para gravar a Missa de Nossa Senhora do Sameiro, na versão para coro e orquestra (Joaquim Santos)”, depois de ter participado na sua primeira execução integral, em 2005. O Coro já cantou com a Orquestra da Gulbenkian e com a Orquestra Nacional do Porto e também é uma Associação com personalidade jurídica canónica desde Agosto de 2004.
ÚNICAS NOTAS
SÃO DE MÚSICA
Mas nem tudo é perfeito numa obra humana, por mais dedicação e paixão que os seus elementos lhe dediquem. Se fosse perfeito, era inacreditável. Hélder Apóstolo reconhece que o Coro Gregoriano enfrenta dois problemas: “precisamos de gente nova e com disponibilidade de tempo para ensaios e concertos”. Os ensaios são às terças-feiras na Igreja de S. Lázaro e estes problemas fazem com que o Coro tenha de declinar muitos convites que lhe são feitos, até porque as “únicas notas para os nossos cantores são de música. Só muito amor à música explica a participação e perseverança de todos os elementos do Coro”.
Quanto a projectos, o Coro está a gravar um novo CD – nos Mosteiro de Arnoso – mas as condições envolventes não são as melhores. “Quando os cães das redondezas desatam a latir lá se vai o trabalho por água abaixo” – explica Hélder Apóstolo.
“Trata-se de um CD todo mariano, com peças em gregoriano e em polifonia, algumas delas inéditas minhas em que faço uma articulação entre o canto gregoriano e a polifonia”-revela o maestro que espera “acabar a gravação antes do Verão”.
Recorde-se que o primeiro CD – Passio Domini – foi gravado nos claustros da Sé em duas noites apenas, O novo CD terá quase trinta temas, apresentados de forma sistemática e intercalando gregoriano com polifonia.
Neste CD existe também uma “preocupação pedagógica. Ninguém ama o que não conhece e as pessoas têm de aprender a gostar da música” – explica Hélder Apóstolo, sublinhando que esta é a finalidade dos Coro Gregoriano e da Sé Primacial: “ a educação musical da sociedade bracarense”.
Espírito Santo responsável por 90 por cento
“Se olharmos para isto tudo e pensarmos que é feito por voluntários nos tempos livres, com um ensaio por semana, 90 por cento do trabalho só pode ser obra do Espírito Santo” – comenta Hélder Apóstolo quando perguntámos: como é possível ter um repertório tão grande e tão qualificado com apenas um ensaio por semana?
UM mestre polifacetado
Hélder Fernando Antunes Geraldo Apóstolo iniciou-se nos estudos da arte dos sons pela mão dos seus familiares, “ao colo da minha avó, que falava francês e tocava piano”.
Estes estudos foram aperfeiçoados nos seminários de Aveiro e no Conservatório daquela cidade do Vouga, onde foi aluno do doutor Arménio da Costa Júnior, vindo depois a obter a Licenciatura em Canto Gregoriano e Direcção Musical. Foi aluno decanto dos prof. Maria do Rosário Brandão e Manuel António Serrico. Dedicou-se depois à revitalização de diversos coros em Coimbra e em Braga, onde chegou em 1998, enquanto apresenta e compõe algumas das suas peças para vozes mistas ou para vozes iguais, à Capella e para Coro e órgão e instrumentos de corda e sopro.
Admirador incondicional de Manuel Faria e Joaquim Santos, Hélder Apóstolo é o Mestre capela da Catedral de Braga desde 2000 e presidente da Comissão Instaladora do Instituto Gregoriano de Braga, projecto em parceria com a Universidade do Minho, a Arquidiocese de Braga, o Coro Gregoriano, Cabido e outras entidades.
É ainda licenciado em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa, Mestre em Filosofia pela Universidade do Minho, onde faz agora o doutoramento, ao mesmo tempo que conclui a licenciatura em Direito Civil.
Oficinas de S. José:
a banda pode esperar
Fomos encontrar o maestro Hélder Apóstolo nas Oficinas de S. José, instituição tutelada pela Diocese de Braga, onde é educador de adolescentes e jovens.
Seria imperdoável não confrontar este apaixonado pela arte dos sons com a possibilidade de ressuscitar a banda filarmónica das Oficinas de S. José que, outrora, foi um alfobre de músicos e instrumentistas para muitas filarmónicas do Minho.
“Não é assunto que não tenha sido falado nas reuniões de Direcção, mas agora não existem condições para recriar essa Banda” – começa por dizer Hélder Apóstolo.
As Oficinas de S. José foram criadas em 1889 e dois anos depois, numa reunião de direcção, foi criada uma Banda de Música por proposta de alguns alunos internos, conforme se pode ler num documento da instituição.
A criação da banda destinava-se a instruir os jovens na arte musical e a solenizar as celebrações e tudo começou com a aquisição de alguns instrumentos e o resto veio a comprar-se depois.
A actual direcção, presidida pelo Cónego Fernando Monteiro, “já colocou a questão, concluiu-se que era muito dispendioso. Os instrumentos estão muito debilitados e o seu restauro era mais caro que a compra de novos. Mas a grande questão nem é financeira. Os interesses dos alunos hoje são outros e diversos e naquele tempo era possível manter uma Banda a funcionar e assumir compromissos porque os alunos eram internos. O funcionamento das oficinas era diferente do actual. Havia menor mobilidade dos alunos. Agora passam cá pouco tempo, e ainda bem. Depois têm aulas no exterior, com toda a carga lectiva que não deixa tempo para ensaios. Quando chegam a casa têm de estudar e há pouco tempo para aprender música, aprender a tocar um instrumento”.
Depois, acrescenta Hélder Apóstolo, no começo e meados do século passado, “pertencer à Banda era a única forma que os jovens tinham de passear e sair do internato. Hoje, isso não é uma mais valia para eles e existem outros interesses como cavaquinho, piano, viola, flauta, cantares, teatro. Manter um grupo destes é diferente de manter uma banda de música. Formar uma filarmónica demora muito e a instabilidade provocada pela mobilidade torna difícil recuperar o projecto”.
Neste momento, as Oficinas de S. José acolhem 42 jovens e das oficinas que existiam – como sapataria e alfaiataria – apenas se mantém a de artes gráficas, de onde vem suporte financeiro para a instituição.
Quem é quem
no Coro Gregoriano
ASSEMBLEIA GERAL
Presidente: Luís Gonzaga Macedo.
Vice-presidente: António José Lopes Mendes.
Secretário: Justiniano Gonçalves Mota.
DIRECÇÃO
Presidente: Manuel da Rocha Carvalho.
Vice-presidente: Manuel Cardoso da Mota.
Secretário: Fernando José Lopes.
Tesoureiro: Luís Joaquim Abreu Fernandes.
Vogal: Avelino Garrido da Silva.
CONSELHO FISCAL
Presidente: Manuel Matias Gonçalves Pereira.
Vogais: José Marques da Mota e Eurico Carvalho Pereira.
Quem é quem
no Coro da Sé
ASSEMBLEIA GERAL
Presidente: Manuel da Rocha Carvalho.
Vice-presidente: M. Glória S. Teixeira
Secretário: Justiniano Gonçalves Mota.
DIRECÇÃO
Presidente: Hélder Apóstolo.
Vice-Presidente: Ana Maria Martins Araújo.
Secretário: Manuel Cardoso da Mota.
Tesoureiro: Luís Joaquim Abreu Fernandes.
Vogal: Liliana Conceição da Costa Rodrigues.
CONSELHO FISCAL
Presidente: Albano A. Silva
Vogais: Olga Oliveira e Aurora Alves Macedo
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