Saturday, April 11, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (9)




Coincidindo com a tomada do Porto e o desastre da ponte das Barcas (na foto acima, local do cais), em que morreram cerca de quatro mil pessoas, muitas delas fugidas de Braga, o Marechal Soult começa a tentar captar as boas graças dos portugueses. Com a coordenação do Clero, foi notável a resistência nas regiões do Minho e Trás-os-Montes, apesar da embaixada "traidora" de Braga que vai ao Porto solicitar a Soult um "príncipe" francês para governar a Lusitânia Setentrional.

Soult mostrava que não estava muito afoito em marchar sobre Lisboa e estava mais preocupado em reforçar a linha de comunicação com a Galiza, tarefa que lhe absorvia muitos efectivos e as forças de que dispunha não lhe garantiam com sucesso um movimento sobre Lisboa.

A Defesa de Portugal — apoiado no Litoral com a chegada dos ingleses — reorganizava-se no interior do território, especialmente em Trás-os-Montes e nas Beiras, ao passo que no Minho era a resistência popular quem dava cartas. Brilha nos anais da história a elevada resistência de Ponte de Lima, marcada por inigualável selvajaria dos militares franceses que punia severamente o patriotismo dos seus habitantes.

O Município de Ponte de Lima vai levar a cabo uma Conferência, a realizar na Biblioteca Municipal, no dia 17 de Abril, pelas 21.00h, subordinada ao tema “O Norte de Portugal na Restauração e guerra contra os franceses”, pelo Prof. Doutor Viriato Capela. Esta será uma boa oportunidade para podermos conhecer o papel importante desenvolvido pela população de Ponte de Lima na resistência à passagem dos franceses. Os combates deram-se durante vários dias, em 7 de Abril o mais sangrento.

Durante o período das invasões francesas e inglesas, que devastaram o nosso país (1807-1820), Frei Francisco de S. Luís, mais conhecido como Cardeal saraiva, notável já pelo seu valor intelectual e moral, assume uma posição política de envergadura no movimento libertador do país. De tal modo, que o frade limiano aparece praticamente desligado da ordem beneditina para se consagrar ao movimento de libertação do seu povo e se mostrar decisivamente a favor da causa liberal que levou à revolução de 1820.

A resistência minhota está a ser devidamente divulgada por uma equipa de historiadores da Universidade do Minho, liderada por José Viriato Capela e participada pelos investigadores: Henrique Matos e Rogério Borralheiro, sobre o impacto das invasões francesas, no norte do país.  O I dos volumes previstos acaba de ser publicado com o apoio do Governo Civil de Viana do Castelo e as Câmaras de Barcelos, Braga, Caminha, Carrazeda de Ansiães, Monção, Ponte de Lima, Viana, Vila Nova de Cerveira e Vila Nova de Famalicão.

Mais uma parceria da Casa Museu de Monção e Universidade do Minho deu origem ao livro «O Heróico Patriotismo das Províncias do Norte. Os concelhos na restauração de Portugal de 1808».

Nestes dois volumes são narrados factos e mencionadas personalidades que abonam o «heróico patriotismo das populações dispersas pelas vilas e cidades do Norte de Portugal», dando para ajuizar bem da coragem e estoicismo de aldeia, por aldeia, vila por vila, cidade por cidade, se uniram em torno de uma causa comum: correr à vassourada essa gente invasora que abandonou, sem honra nem glória, a Terra que era (e é) nossa, depois de pilhar, saquear solares e igrejas e matar centenas de pessoas.

Estas publicações podem ajudar-nos a ter uma ideia objectiva da ânsia de poder do exército franco-espanhol, contra um País mais pequeno e menos  equipado com material bélico que aguentou a sua independência com a capacidade de resistência do seu povo.

Militarmente Portugal não poderia resistir ao poderio invasor. Graças ao reforço das tropas aliadas, nomeadamente inglesas, os Portugueses formaram unidades de milícias, sob as ordens dos municípios que se cotizaram para assumir os encargos inerentes a pelotões, companhias,  batalhões, bem como ao armamento indispensável à eficácia dessa  gente que patrioticamente deu aos invasores lições de grande coragem, bravura e sangue frio. Muitos milhares de nomes de antepassados nossos  aparecem mencionados nestas deliberações municipais, ordens de serviço, convocatórias. Como se recorda pelo papel interventivo que tiveram, a importância das vilas e concelhos do Minho e de Trás-os-Montes, como Braga, Póvoa de Lanhoso, Viana do Castelo, Barcelos, Guimarães, Ponte de Lima, Cerveira, Monção, Caminha, Esposende, Vila do Conde. Mas qualquer vila minhota encontra nestes livros nomes de voluntários, de beneméritos, de  patriotas que levaram a sério uma  reacção estóica para expulsar quem se intrometeu em solo Português.

É o caso do Francisco Joaquim de Abreu Maia, como oficial de milícias, fez parte integrante das forças militares que, em Vila Nova de Cerveira, impediram às tropas francesas, comandadas pelo general Soult, a passagem do rio Minho, em meados de Fevereiro de 1809.

São todos eles que cortam a ligação das tropas de Soult com a rectaguarda em Espanha, impedindo o abastecimento dos 35 mil homens e mais de 4500 cavalos franceses, enquanto o Brigadeiro Silveira mandava reforçar a ponte de Marco de Canaveses, guarda a ponte de Mondim de Basto e reforça a defesa de Amarante que ataca os franceses na primeira investida sobre aquela cidade.

Silveira toma posição na margem esquerda do rio Tâmega, para não ser atacado pelo Lado de Felgueiras, com tropas idas de Guimarães, travando um duro comabte entre 18 e 22 de Abril. Os franceses tentaram atravessar a ponte de Amarante três vezes, até que, numa atitude de desespero, decidiram lançar fogo às casas da vila. As tropas de Silveira defenderam durante 14 dias aquela passagem de forma heróica.

Era um tempo precioso para os franceses que tentavam a todo o custo reactivar os abastecimentos que vinham de Espanha. As povoações de Amarante estavam desertas e os recursos faltavam aos soldados. Só no dia 2 de Maio conseguiram destruir um arco da ponte e fazer a travessia.

Cinco dias depois começava o contra-ataque de Wellesley, a partir de Lisboa, com apoio de vinte mil militares ingleses e portugueses e na noite de 11 para 12 de Maio, as tropas atravessavam o Douro em barcas e os franceses ficavam numa situação crítica. Restava uma saída ao que ainda sobrava dos 35 mil homens e cinco mil cavalos da armada de Soult, sair para Espanha, por Guimarães ou Braga em direcção a Montalegre. Os franceses esperavam ter livre a estrada por Amarante, como veremos na próxima crónica.

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