Thursday, February 15, 2007

Celeiros: as grandes obras fazem-se com dinheiro dos pobres





Falar da paróquia de Celeirós e não investir algum tempo a conversar com ele, é deixar o trabalho incompleto. É um católico incontornável e é consensual o seu nome quando se procura alguém para falar do passado e presente do dinamismo que se respira na paróquia de Celeirós. Estamos a falar de um professor de Educação visual e tecnológica aposentado, desenhador e director de obras nas horas livres que ainda teve tempo e paciência para ser presidente de Junta de Freguesia durante treze anos (eleito pela primeira vez em 1976).

É o prof. Manuel Gomes Marques, 64 anos, nascido em Trandeiras, um dos mais ilustres filhos adoptivos de Celeirós, desde há 42 anos.

A ele se deve a dinamização de um grande grupo de habitantes de Celeirós para a construção da nova Igreja, um sonho ainda inacabado, bem como a dinâmica do Conselho Económico e agora o lançamento da Associação dos Amigos da Igreja, cujas primeiras eleições se efectuam no dia 24 deste mês.

Desde muito jovem, já em Trandeiras, esteve muito ligado às actividades religiosas, na senda dos pais. “Sempre estive muito ligado como praticante, quer em Trandeiras, quer em Figueiredo ou na Aveleda onde vivi antes de assentar em Celeirós, quando casei”.

Recusa de imediato que o consideremos o motor das transformações verificadas em Celeirós na década de oitenta e seguintes. “Não resulta só de mim. Há um conjunto de pessoas muito grande que começou a trabalhar já no tempo do padre Vaz Pinto, que arrastou consigo muitas outras. Foram elas que me impulsionaram para uma maior envolvência, depois com a presença do padre Sílvio Couto que impulsionou a vida paroquial. O Padre Fernando, honra lhe seja feita, pela confiança que deposita em nós, deixou-nos trabalhar”.

“Por isso, como lhe digo, é muita gente e a obra só foi possível porque houve um grupo de muitas pessoas que se envolveram para que nós conseguíssemos as receitas necessárias, cerca de um milhão e duzentos e cinquenta mil euros. Está tudo pago” – prossegue Manuel Marques.

Impressionante é o facto de “termos conseguido esse dinheiro todo dentro da freguesia. Não fomos pedir fora. Criámos as comissões de angariação que abrangiam todos os lugares da freguesia e cada um encarregava-se de mensalmente fazer a recolha dos donativos. Não havia um mínimo instituído. Cada um dava o que podia”.

O PROJECTO É MEU

Mas o projecto da nova Igreja é da sua autoria? Interrompemos.
“Sim, explica Manuel Marques. O projecto é meu, Colhi opiniões junto dos outros membros da Comissão mas o mais importante foi o empenho desta comissão no seu trabalho mensal”.

Explicando-se melhor, acrescenta: “o projecto da Igreja não era assim. Atendendo à actual situação, teríamos outra diferente, mas naquela altura apenas tínhamos aquele espaço disponível. Se existisse mais terreno, talvez tivéssemos conservado a Igreja velha toda”.
Quanto aos elementos decorativos, recorda, “foram apenas para enriquecer uma obra toda em betão, com uma traça própria. Os elementos não têm a ver com a parte velha, visavam chamar a atenção, dar maior dignidade a um edifício que é uma igreja. O problema é que ainda não está concluído o projecto. Nós prevíamos umas plataformas a enriquecer com imagens escultóricas que ainda não estão colocadas”.

Ainda nãos e sabe bem quais são as imagens a colocar mas não andaremos longe dos propósitos dos paroquianos se dissermos que uma será do padroeiro, S. Lourenço, outra de Cristo-Rei, dia da bênção da Igreja, e outra de Nossa Senhora.
No que se refere à entrada principal, prevê-se ainda a colocação de uma cruz com quatro metros de altura, apoiada numa estrutura a definir.

UMA ‘BRINCADEIRA’
DE CARNAVAL

Manuel Marques ainda se lembra bem quando começou esta longa aventura: no dia 16 de Fevereiro, de 1988. “Era dia de Carnaval e passamos esse dia a substituir o soalho da Igreja velha e esse foi o ponto de partida da ideia de uma nova Igreja” – recorda.

Dava-se assim o primeiro passo para uma obra com 1600 metros quadrados de área coberta (Igreja, salão paroquial e Centro Social) e o dobro em volume de construção.
Se atrás escrevemos que a Comissão não angariou fundos fora da freguesia, também é notável sublinhar que a Igreja nova foi construída com a colaboração de empresas da freguesia. Nada foi construído com materiais ou recursos de empresas exteriores a Celeirós.

“As grandes obras são feitas com o dinheiro dos pobres mas não podemos menosprezar a ajuda de alguns empresários da freguesia. Só para lhe dar um exemplo, todo o granito da Igreja e do centro Social foi oferecido por uma empresa, enquanto outra pagou toda a caixilharia e uma outra pagou as portas todas.

Assim se explica que o Padre Fernando Apolinário tenha chamado este e outros homens que se envolveram neste gigantesco investimento para constituírem o Conselho Económico (com 28 pessoas). Manuel Marques é o secretário e Domingos da Silva Oliveira é o tesoureiro. Os outros elementos do Conselho são outros benfeitores da paróquia, como Abílio Madureira, José Carvalho Moreira, Manuel Luís (que o ofereceu toda a instalação eléctrica para a nova Igreja), Manuel Pinto Lopes Cruz, Manuel Dias Rodrigues, Mário Ferreira Pinto e outros.

É uma tarefa difícil que foi confiada a estes homens porque o Conselho Económico é fortemente deficitário. As receitas das esmolas cobrem pouco mais de vinte por cento das despesas que rondam os cem mil euros anuais.
As freguesias, quanto maiores mais problemas têm. Com as igrejas é igual. A manutenção dos nossos espaços (1600 metros quadrados de área coberta) é muito dispendiosa e as esmolas dos ofertórios “são uma gota no oceano das despesas que temos. Conservar tem muitos custos e de dez em dez anos tem de se fazer intervenções de fundo”.

O Conselho Económico tem como missão “gerir os bens da paróquia” e “a nossa actividade, para além das obras de conservação e conclusão da Igreja, com as imagens, o fecho do telhado com algerozes e capacetes apoiados nas platibandas, pintura final, passa também pela recuperação da Igreja velha”.
Na Igreja velha, o soalho foi polido e “estamos a restaurar os altares que há 65 anos não sofriam qualquer intervenção. Vamos ver se está tudo pronto por altura dos Passos” – promete Manuel Gomes Marques.

AMIGOS
DA IGREJA
E DOS MAIS
POBRES

Sendo assim, as “receitas não chegam para os encargos correntes”. “Todos os anos temos de recorrer a donativos especiais de muita gente” e é por isso que “lançamos mãos de uma ideia: a criação de uma Associação dos Amigos da Igreja, em 2004”. Tem funcionado em regime de comissão instaladora, com 340 associados que pagam uma quota mínima de dois euros e meio mensais, mas no dia 24 deste mês vão ser eleitos os primeiros corpos gerentes.

Trata-se de uma associação “sem fins lucrativos que pretende gerar receitas extraordinárias para apoiar a Igreja quando esta não tiver as receitas necessárias”.
Mas a ideia é mais ambiciosa: “vãos tentar ter recursos para acorrer a situações de emergência. Quem passa aqui, pensa que não há pobreza. Há. E nós sabemos onde estão essas situações de miséria e queremos minimizar essas situações” – adianta Manuel Marques.

É que, prossegue, “ficamos tristes porque não temos recursos para minimizar essas situações de estrema pobreza. Com a Associação, e partindo do pressuposto que as pessoas vão aderir, pois esperamos chegar aos mil associados, podemos ter condições para minimizar esses casos”.
Acresce que a associação dos Amigos da Igreja tem estatutos que permitem bater à porta de instituições e organismos que têm a missão de ajudar nesse combate, para além de promover convívios e festas para unir as pessoas”.

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