Saturday, July 2, 2011

Os rostos da República de A a Z: Afonso Costa (08)


Sindicalistas, católicos, monárquicos, republicanos moderados uniam-se contra Afonso Costa em volta do caminhense Sidónio Pais, que avança com um golpe no dia 5 de Dezembro de 1917.

Dois dias depois, a conspiração parecia fracassar e Afonso Costa, retido num hotel no Porto, manda servir café para toda a gente enquanto interpela o presidente: “ V. Ex. cia aceita a demissão do Governo, sem me ouvir?” (cf. Oliveira Marques, in Afonso Costa, Lisboa, Arcádia, 1975, p. 188).

Afonso Costa recusa-se a fugir e no dia seguinte o hotel era cercado por militares e preso, sendo conduzido pela escuridão das ruas do Porto e daí para o forte da Trafaria e deste para Elvas, onde ficou recluso três meses.

Os “afonsistas” eclipsaram-se em Lisboa e a multidão assaltava a casa de Afonso Costa, lançando livros, roupas, santos crucifixos (para espanto de todos!) pelas janelas.

Costa era visto como ditador, o que explica a vandalização da sua casa. Fernando Pessoa não poupava as palavras quando se referia a Afonso Costa: “Franco seria um tirano de merda; este (Costa) é um tirano de caca”, é “um dos maiores bandidos que tem aparecido à superfície da política lusitana”.

Dupla sai de cena

Com Sidónio Pais termina um ciclo de promessas não cumpridas pelos dirigentes republicanos e Afonso Costa é associado a todas as insuficiências do regime. Bernardino Machado leva por tabela e é enviado para o exílio e ninguém se levanta em defesa deles. Afinal, Costa ser-viu os objectivos de Bernardino, tornando-o presidente e este satisfez amplamente os interesses do partido de Afonso Costa. Formaram uma dupla de sucesso e pagaram com igual fúria do povo.

Em Março de 1918, António José de Almeida insurge-se contra a manutenção de Afonso Costa no forte de Elvas, denunciando a campanha de calúnias de que é alvo e, no fim do mês, o antigo ministro das Finanças saía da prisão. Terminavam três meses de tormento para Afonso Costa que seguia para Paris onde instalou o seu escritório de advogado, bem sucedido.

Enterrada a aventura mo-nárquica e sidonista, em 1919, Afonso Costa escla-rece que não quer voltar à política: “eu e os meus fomos pessoalmente acometidos e tivemos de sofrer do-res, calúnias e vexames, que nem aos maiores inimigos da Pátria seria legítimo infligir” (cf. Oliveira Marques, Op. Cit. pp. 433-434). Afonso Costa tinha 48 anos e muito para dar ao país.

Depois de deixar de viver em Portugal, após o golpe do caminhense Sidónio Pais, Costa continua a percorrer a Europa como um “bom burguês”, sem deixar de praticar o seu desporto favorito, a esgrima.

Imagem externa favorável

A guerra destruíra completamente a imagem de Afonso Costa e do seu Partido Democrático, mas o seu prestígio entre as grandes potencias mantinha-se alto, sendo nomeado para substituir Egas Moniz (médico, diplomata e futuro Nobel da Me-dicina) na Conferência de Paz em Paris, após a I Guerra Mundial.

Afonso Costa aplicou toda a sua sabedoria e engenho para defender os interesses de Portugal na Sociedade das Nações, como descreve de forma clara José Medeiros Ferreira na sua obra Portugal na Conferência de Paris, Lisboa, Quetzal, pp. 28-83.

Afonso Costa representou Portugal na assinatura dos Tratados de Paz que se seguiram ao Tratado de Versa-lhes e continuou a desempenhar actividades diplomáticas ao serviço do pais, tentando mesmo candidatar-se ao Conselho Executivo da Sociedade das Nações, em representação das “pequenas potências”.

Portugal volta
a chamá-lo

Em Portugal, a vida partidária voltava ao rotativismo entre Liberais (evolucionistas e unionistas) e o Partido Democrático, igual ao que marcara os últimos anos da Monarquia.

O regime entrava em convulsão interna, agravada pela inflação galopante, agitação social e instabilidade governativa. Em 1920, Portugal teve seis governos e no ano seguinte, sete. Repetiam-se os pedidos para que Costa Voltasse e ele recusou-os todos.

Marcara-o a forma como o sidonismo o tratou mas também é verdade que Afonso Costa não conseguiu reunir as condições que impunha e não estava disposto a deixar-se “queimar” só para tapar algum buraco.

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