Palavras sobre bracarenses que fazem, porque há gente fantástica, não há? Há, a começar por ti.
Saturday, February 14, 2009
Agostinho da Silva: o elogio da oposição
A terminar esta semana, neste dia treze, é uma sorte podermos evocar a vida e obra de um português, combatente da liberdade, na teoria, no ensino e com a vida.
Foi ele quem nos ensinou a não nos deixarmos levar por nenhum sentimento, excepto o do amor de entender, de ver o mais claro dentro e fora de nós; ensinou-nos também a acreditar na dúvida construtiva e daí partir para certezas que nunca deixemos de ver como provisórias, a não ser uma, a de que somos capazes de compreender tudo o que for compreensível.
Estamos a falar de Agostinho da Silva, nascido no Porto a 13 de Fevereiro de 1906 e que se destacou em Portugal e na Europa como filósofo, poeta e ensaísta em que o seu pensamento e vida afirmam a Liberdade como a mais importante qualidade do ser humano. Agostinho da Silva é um filósofo prático e empenhado através da sua vida e obra, na mudança da sociedade.
Dono de um percurso académico notável, concluiu a licenciatura em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com 20 valores. Após concluir a licenciatura, em 1929, com apenas 23 anos, defende a sua dissertação de doutoramento sobre “O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas”.
depois de estudar na Sorbonne e no Collège de France, leciona no ensino secundário em Aveiro até 1935, altura em que é demitido do ensino oficial por se recusar a assinar a Lei Cabral que obrigava todos os funcionários públicos a declararem que não participavam em organizações secretas e subversivas. Depois de breve estadia em Espanha regressa a Portugal mas é preso pela polícia política em 1943, fugindo para a América do Sul.
Em 1947 instala-se definitivamente no Brasil, onde vive até 1969, ensinando em várias universidades e, ao lado de Jaime Cortesão, organiza a Exposição do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo. Funda várias universidades do Brasil, além de outras instituições difusoras da cultura e língua portuguesas.
Regressa a Portugal em 1969, após a doença de Salazar e a sua substituição por Marcello Caetano, e continuou a escrever e a leccionar em diversas universidades portuguesas, dirigindo o Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Técnica de Lisboa, e no papel de consultor do actual Instituto Camões.
Apaixonado pelo Espírito Santo, Agostinho da Silva é um dos principais intelectuais portugueses do século XX e deixou-nos este mandamento para nortear a vida: precisas, acima de tudo, de não te lembrares do que eu te disse; nunca penses por mim, pensa sempre por ti; fica certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensaste e decidiste do que todos os acertos, se eles não são teus.
Assim, conclui, "os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura. já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem".
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