Palavras sobre bracarenses que fazem, porque há gente fantástica, não há? Há, a começar por ti.
Saturday, December 18, 2010
Cem anos de República no Minho (21)
Destruído o Castelo de Braga, apesar da oposição de Albano Belino, em 1906, esquecido o sonho de Braga como eixo ferroviário entre o Minho e Trás-os-Montes, nova ofensiva lisboeta se abatia sobre Braga e neste fervilhar de ameaça republicanas entronca o levantamento de Braga contra o centralismo lisboeta.
O novo episódio de batalha em Braga é a intenção de levar o Arquivo do Cabido da Sé para Lisboa e o fecho da Escola Normal.
Apesar das divisões (Partido Democrático, de Afonso Costa, Evolucionista de António José de Almeida, e União Republicana de Brito Camacho), o regime republicano ia-se impondo e fracassavam as conspirações monárquicas. O único perigo real era a Igreja e contra ela se travou um combate quase permanente a partir de 1910.
Braga vê-se confrontada com duas medidas que ameaçam diminuir-lhe o brio e esvaziar-lhe materialmente a sua memória: os republicanos querem levar o Arquivo da Sé para a Torre do Tombo e extinguir a Escola Normal.
Manifestações de protesto enchem as ruas de Braga lideradas por Justino Cruz contra Júlio Dantas, enquanto o deputado Domingos Pereira protesta no Parlamento. Valeram a pena os protestos. Na luta pela Escola Normal erguem-se as mesmas vozes mais Manoel Monteiro que se demite do Governo Civil, como protesto, inspirando uma moção de José António Cruz, aprovada na Câmara Municipal contra este intento.
Apaziguamento inútil
A Igreja de Braga, surpreendentemente, adopta uma estratégia de apaziguamento que dura pouco tempo, por causa do fecho das suas escolas (Espírito Santo, Sagrado Coração de Maria, Seminário de Montariol, Colégio S. Tomás de Aquino). Vários edifícios da Igreja eram confiscados e colocados ao serviço da República.
Há 100 anos, a 24 de Dezembro, o Episcopado português toma a primeira posição de força, através de uma pastoral colectiva, que começa a ser lida ao mesmo tempo que avançava o Registo Civil (até então serviço em poder exclusivo da Igreja).
Muitos padres (Caniçada, Salamonde, Tadim, Navarra, Adaúfe e Cunha, entre outros) são detidos por terem lido aquela carta dos bispos que o Governo de Afonso Costa proibira, enquanto ministro da Justiça.
Os bispos eram punidos com degredo para territórios ultramarinos, como aconteceu com o barcelense D. António Barroso, enquanto o arcebispo de Braga era suspenso da titularidade da Sé de Braga e exilado para fora da arquidiocese que ficou sem bispo durante três anos. O presidente Arriaga começa a perceber que a detençção dos bispos — quando viaja para Braga D. manuel Vieira de Matos que já tinha sido preso durante 13 dias — apenas serve para “arranjar mais inimigos para o novo regime entre os católicos da sua diocese e do país” (cf. Commercio do Minho).
Em 1912, os párocos de todo Minho recusam-se a fazer a visita pascal, porque a nova Lei da Separação exigia o pedido prévio de autorização para a realização do cortejo pascal, o que muitos párocos se recusaram afazer, manifestando a sua indignação e procurando espalhar a impopularidade do novo regime perante o povo, profundamente católico.
Com estas quezílias, retardava-se o cumprimento das promessas republicanas numa terra onde “não há as mínimas noções de educação cívica e a situação económica do nosso lavrador trá-lo inevitavelmente amarrado ao proprietário mais abastado da freguesia que faz dele um joguete, uma coisa, um autêntico carneiro cegamente obediente”. Falhava o ataque ao caciquismo através da instrução do povo. A República fechara as velhas mas não abria novas escolas
Wednesday, December 15, 2010
Cem anos de República no Minho (20)
Naquele dia 18 de Outubro de 1918, Braga teve direito dupla festa: foi inaugurada a tracção eléctrica nos transportes urbanos, numa altura em que o país se preparava para a trágica aventura da I Guerra Mundial, e foram distribuídas mil esmolas de 300 reis aos pobres das freguesias da cidade, vincando o espírito solidário da República, nascida quatro anos antes.
De facto, no dia 5 de Outubro, desde o ano 1911, Braga despertava os seus 400 pobres (que chegaram a ser dois mil em 1919) para receberem o “bodo” (um quilo de arroz, um bacalhau, uma broa de pão e 200reis em dinheiro).
Era o culminar de um longo percurso de reivindicações de Braga que vinham desde o século anterior, dando corpo a um levantamento de Braga contra o centralismo lisboeta.
Braga ansiava que os novos senhores de Lisboa cumprissem promessas feitas nas décadas anteriores, como a ligação até Chaves por caminho de ferro, ao tempo do governador civil Jerónimo Pimentel.
Também a ligação ferroviária entre Braga e Guimarães ficava apenas no papel das promessas, desenvolvendo-se então um esforço para assegurar, pelo menos, que os republicanos construíssem a ligação de comboio entre Braga e Monção, numa altura em que o Governo decidira fazer a ligação entre Guimarães e Fafe.
Braga esperava que o dinheiro “republicano” chegasse para os seus sonhos, transformando-se num novo “entroncamento” ferroviário para todo o Minho. Eram sonhos defendidos pela Liga de Defesa e Propaganda de Braga que obtêm a autorização do rei D. Manuel II, em 1910... mas não se concretizaram até hoje e os bracarenses tiveram de contentar-se com os eléctricos.
Enquanto o país ia assistindo à fragmentação do Partido Republicano no grupo Democrático de Afonso Costa, no Evolucionista de António José de Almeida e na União Republicana de Brito Camacho e a consequente instabilidade governativa, acentuava-se o combate ao “único perigo real”, a Igreja, ao mesmo tempo que surgiam aqui e ali, como em Fafe, as conspirações monárquicas, através do Integralismo Lusitano que valorizava a família e segurava a propriedade privada.
Em Braga, a 1 de Outubro de 1911, na sequência da fracassada revolta monárquica do Porto, era incendiada a residência da Associação Católica. NO ano seguinte. registam-se novas incursões monárquicas em Valença, Basto e Chaves. Ao mesmo tempo abria em Coimbra o Centro Académico da Democracia Cristã, onde hão-de passar Oliveira Salazar e o Cardeal famalicense Manuel Gonçalves Cerejeira (cf. SARAIVA, José António, in O 28 de Maio e o fim do liberalismo — Do advento da República à Revolta de Braga, Bertrand, Lisboa, 1976, pp. 70-91).
A entrada de Portugal na Guerra de 1914-1918 foi o prelúdio do colapso do regime republicano democrático, tão propalado em Braga, após o ultimato inglês, em 1890, pelo jornal “Commercio do Minho”.
Voltavam os tempos difíceis de 1892, quando as notas do Banco de Portugal nada valiam e eram trocadas por células emitidas pelo Ascensor do Bom Jesus, pela Associação Comercial e algumas casas comerciais de topo, como Padarias, Hotéis, mercearias, etc. Eram cédulas que facilitavam os trocos por notas do Banco de Portugal.
Ficavam desiludidos aqueles estudantes do Liceu que alguns anos antes tinham feito uma greve de dez dias pela democracia republicana, desde os tempos de João Penha, com um debate permanente através dos oitos jornais existentes em Braga: seis semanários, um trissemanário e um bissemanário.
É este fervilhar de ideias republicanas que entronca o levantamento de Braga contra o centralismo lisboeta.
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